quarta-feira, 9 de março de 2011

''Culpa ou Responsabilidade?”

Diante de tragédias e catástrofes há sempre quem diga: “foi a vontade de Deus…” Será?
Outros preferem atribuir os males da humanidade à ação (ou falta de ação) dos políticos. É verdade?
Qualquer que seja a opção, o fato é que temos vocação (ou mania) para, em qualquer circunstância, buscar e apontar um CULPADO.
Deslizamentos e enchentes com centenas de mortos e milhares de desabrigados no Rio de Janeiro: Não demora e vem um não sei quantos especialistas para apontar: CULPA da natureza? Das autoridades? Dos moradores que constroem em áreas de risco? Dos políticos? De Deus?
Aqui em BH, uma árvore cai e mata uma mulher no Parque Municipal:
Dá-lhe autoridades, especialistas e de novo a gana de trazer a público o culpado pelo fato: CULPA do Diretor de Parques e Jardins? Da Prefeitura? Da mulher distraída? Dos políticos? De Deus?
E como não faltam tragédias, voltamos à carreta desgovernada (mais uma) que matou 5 pessoas no há muito manjado, Anel Rodoviário de BH: CULPA do motorista da carreta? Dos outros motoristas que ousaram trafegar pelo Anel? Dos radares desligados? Da Polícia Rodoviária, do Denit, das autoridades, todos igualmente “desligados”? Da impunidade? Dos políticos? De Deus?
O trânsito cada vez mais caótico em nossa cidade, que infernizou motoristas e pedestres nesta semana: CULPA do Detran? Da BHTrans? Da Prefeitura? Dos motoristas fechando os cruzamentos, avançando sinal, estacionando em lugar proibido? Dos políticos? De Deus?
E o horror dos horrores. Tragédia com 15 mortos numa festa pre carnavalesca no Sul de Minas: CULPA da CEMIG? Do motorista do Trio Elétrico? Do Corpo de Bombeiros? Do folião desavisado que estava com a serpentina? Da serpentina metalizada? Dos políticos? De Deus?
Parece repetitivo e desnecessário mas não é. Enquanto estivermos preocupados em apontar culpados depois da tragédia acontecida, nós não cobramos comprometimento de toda uma rede que deve funcionar sempre para não ter que agir só depois que o pior já aconteceu. Nesta hora, como não houve o comprometimento e a ação responsável, parece mais conveniente arranjar um culpado, um bode expiatório qualquer.
E é aí que reside o cerne da questão: Diante de tragédias, de acidentes e incidentes devemos buscar Culpados ou Responsáveis? Encontrar o culpado acaso elimina a omissão dos responsáveis?
Um motorista de 24 anos, numa carreta bitrem, dirigindo a 115 km/h, em local que ele não conhece, trafegando pela esquerda assumiu, sim, o risco de matar. A culpa pelo trágico desfecho é dele. Mas e o que dizer dos responsáveis pelo funcionamento de um sistema viário eficaz e seguro? Eles devem oferecer ao cidadão (que paga altíssimos impostos) estradas com estrutura adequada e em perfeitas condições de segurança. No caso do nosso malfadado anel rodoviário a estrutura adequada supõe sinalização eficiente, radares bem distribuídos e funcionando, pista em boas condições, área de escape e, por fim, fiscalização atuante e constante para coibir os abusos que resultam em número alarmante de vidas perdidas e famílias desfeitas.
Culpa ou responsabilidade? É preciso ter cuidado com as palavras. Elas trazem consigo o peso dos sentimentos, da cultura – do chamado senso comum. Palavras são setas que apontam numa direção. E assim, é importante observar: CULPA é uma seta que aponta para baixo! Que derruba, atropela, rotula, humilha e, dificilmente, constrói. Tanto que o sentimento que mais caracteriza a palavra CULPA é vergonha.
O culpado é o cão danado; todos a ele! Sendo assim, em geral, o culpado quer fugir, se esconder, empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Passado o confronto, o desabafo, lá vem outra tragédia. A situação não se resolve.
Mas com a palavra responsabilidade a coisa muda de figura. Ela é uma seta que aponta para a frente! O sentimento que mais caracteriza a palavra RESPONSABILIDADE é compromisso. É preciso aprender com o erro para que a tragédia não se repita. Corta-se a cadeia e o sofrimento recorrente de toda a sociedade.
É isso: O responsável faz dos erros aprendizado. Não foge ao seu papel. Assume as conseqüências e, pela experiência adquirida, torna-se ainda mais confiável.
É fácil encontrar ou fabricar, culpados.
É desafiador formar e identificar responsáveis

*Selma Sueli Silva

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